“Minha querida Gabriela, meu querido João,
Mas que grande honra poder escrever no vosso livro de ouro! Tenho pensado tanto em vocês ao longo destas semanas, desde que recebi o telefonema inesperado do João a perguntar-me se tinha algo planeado para Setembro.
Conheci-te, João, bem antes de conhecer a Gabriela. Andávamlos juntos na escola europeia e foste das primeiras pessoas com quem me dei ao chegar (terceira escola num só ano lectivo). Lembro-me de como andavas comigo de um lado para o outro, com o Luís (eram inseparáveis), a mostrar-me as salas, a cantina,... A minha capacidade de orientação já era um desastre na altura, de modo que foi preciso alguma paciência!
Mais tarde conheci-te a ti, Gabriela. Estávamos em Portugal, em Belém, pela Páscoa, com um dia de sol estupendo. Devo-te muito a ti ter mantido contacto com o João que, apesar de ter imensas qualidades, nem sempre é assídua na correspondência! Aí começou a longa (muito longa) história sobre o anel de noivado. O João era capaz de mo descrever até ao mais ínfimo pormenor — mas precisava de transpôr essa imagem para a realidade pragmática, o que, pelo que percebi, demorou algum tempo. Faltava o anel!
Até que o anel chegou. E os preparativos para o casamento com ele.
Cá estou eu a escrever-vos, de Cambridge, ansiosa pelo vosso casamento que me traz tanta alegria. Sabem, há tantas coisas que gostaria de vos desejar. Tenho pensado qual delas será a mais importante, ou aquela que poderá sustentar as outras todas, como uma pedra angular. A resposta apareceu expontâneamente, quase com um sorriso trocista por ser tão simples. E olhei para ela, durante longas horas, como o Principezinho para a raposa – “cativa-me!” dizia a raposa. Aparecia-me como uma boneca russa interminável, repleta de camadas e de sentidos. Guardava nela, preciosamente, no centro, ligando todas as outras camadas, aquilo que lhe era mais querido e mais valioso. Creio que é isso que vos desejo. Que guardem esse sentimento, maior que cada um de vocês, e que o mimem, sem nunca vos esquecerem do que vos une e do caminho que percorreram. “Il faut cultiver notre jardin”, respondia Candide ao seu companheiro de viagem. E assim, cada vez que vos encontrar, verei esse olhar repleto de carinho, tão brilhante, tão contente, tão genuíno e verdadeiro.
Ana”